VILA FRANCA DE XIRA
História
“Vila com pergaminhos de antiguidade, muito anterior ao reinado de D. Sancho I, foi pertença da Ordem dos Templários, e já nesse tempo prometia desenvolver-se e chegar ao que é hoje, não só pela actividade febril dos seus filhos, como também pela riqueza do seu solo fertilíssimo.”
Estas palavras extraídas do jornal ilustrativo “A Hora” de 1933 definem na exactidão o que é Vila Franca, uma “vila” com um comércio desenvolvido, uma indústria próspera e uma história rica de guerreiros, nobreza e realeza que aproveitaram para observar a beleza desta terra sem fim.
A origem de Vila Franca de Xira remonta bem antes à ocupação da península pelos romanos, pois existem vestígios de fortificações antigas e sepulturas que atestam a passagem dos Fenícios e dos Cartagineses.
Após a tomada de Lisboa aos Mouros, D. Afonso Henriques doou Vila Franca aos Cruzados Ingleses, que pouco cuidaram dela.
Estes viriam a devolvê-la ao régio poder, pelo que D. Sancho I a doou em 1200 a D. Paulino e outros flamengos que posteriormente a restituíram à Coroa, para que em 1206, D. Sancho fizesse nova doação da sua Vila Franca de Xira, desta vez a D. Fruila Hermiges, viúva e Dona muito rica da Ordem dos
Templários, a qual veio a dar foral em 1212, sendo este confirmado e ampliado pelo rei D. Manuel I, O Venturioso, no dia 1 de Julho de 1510.
“A terra tremeu com tanta violência que o Tejo descobriu o seu leito entornando as suas águas pelas margens, destruindo tudo o que se encontrava na sua passagem”
Vila Franca de Xira foi um local sempre assolado de catástrofes, desde doenças como a peste “a pestilência grande” que atacou Lisboa e a fome em 1330, 1348 e 1448; e 1333 e 1355, respectivamente.
Os constantes sinais de terramoto foram constantes nos primeiros séculos de vida desta cidade, sendo que, em 1346,a terra tremeu “a ponto dos sinos tocarem nas torres pavorosamente num dobre de finados, anunciando o acabar do mundo”, e em 1435 um terramoto causou enormes prejuízos em Lisboa e arrasou Vila Franca e Alhandra.
Consecutivamente, as grandes chuvadas que ainda hoje assolam estas terras ricas, deixaram suas marcas nos tempos, como o caso de 1315, em que choveu “um ano inteiro sem cessar” e em 1435, choveu durante 3 meses consecutivos, impedindo a sementeira.
O Terramoto de Vila Franca, ocorrido a 7 e 26 de Janeiro de 1531 demonstrou a força que esta terra contém em suas origens, e o terramoto de 1531, o Monte do Senhor da Boa Morte que continha um castelo e uma casa de habitação ficou destruído tal como muitas das habitações da região. Este representa prova-viva da violência do terramoto.
A 20 de Janeiro de 1551, “o céu tomou a côr do fôgo e novo tremor novamente destruiu as povoações ribatejanas”.
O terramoto de 1755, o grande arrasador de Lisboa, foi também sentido no nosso Ribatejo, nomeadamente, “todas as vilas do Ribatejo padeceram muito. Foram maiores os estragos em Alhandra, Vila Franca, Povos e Castanheira.” Nos seus escombros ficou sepultado o que seria agora muito interessante conhecer quanto à origem, fundação, hábitos e costumes dos povoadores desta encantadora Vila.
“Vila Franca, é, sem contestação, o órgão donde parte o sangue rico que banha todo o Ribatejo, indo desde os campos plantados de vinhedo, até à orla da água onde os bois, pelas tardes silenciosas, vão em bando mitigar a sede e dar uma nota típica na extensa paisagem.”
Durante o reinado de D. João I, a “Villa Franca” funcionava como nó das comunicações entre Lisboa e a Estremadura e em 1487, as “águas da villa receberam a armada que conduziu os “heróis” nacionais à batalha contra os mouros no Norte de África”.
Vila Franca de Xira, tem o seu começo de história no século XII, altura em que foi “baptizada” pelos árabes de Cira ou Xira, devido à vegetação natural que cobria a região inculta.
Vila Franca de Xira foi doada por D. Afonso Henriques a um grupo de cruzados ingleses após a conquista de Lisboa. Em 1200 D. Sancho I fez nova doação a D. Raulino e a outros flamengos. Em 1206, os flamengos fazem a sua devolução à coroa e D. Sancho I doou-a a D. Froila (Fruila) Hermiges (tornando-se pertença dos Templários, por esta ser viúva respeitada entre os mesmos), que concedeu o primeiro foral em 1212 à terra que se viria a designar por Vila Franca. A origem da toponímia está ligada aos cruzados francos que por aqui passaram.
No séc. XVIII, Vila Franca de Xira era pertença dos bens da coroa e a sua igreja paroquial da comenda da Ordem de Cristo. Pertenceu à provedoria e comarca de Torres Vedras e integrou a comarca do Ribatejo quando esta foi constituída. A concentração de grandes propriedades na classe nobiliárquica – eclesiástica, que acumulava direitos rendosos sobre a produção económica, era um traço dominante. A nobreza possuía grandes quintas nesta região e a agricultura era a principal ocupação das gentes de Vila Franca de Xira.
No início do séc. XIX toda a região foi abalada pelas invasões francesas. A localização do concelho levou à construção do sistema defensivo de fortes, que ficou conhecido por Linhas de Torres Vedras (Linha das Torres).
Tendo em conta que as invasões de 1810, a terceira dos franceses, veio desvanecer muitos registos antigos, pois a população ao retirar-se para Lisboa para o abrigo das Linhas das Torres, enterrava os bens que possuía afim de os salvaguardar, mas o mau tempo constante fazia bordejar o Tejo que estendia um lençol das suas águas sobre as terras. Talvez, esta seja a explicação para que Vila Franca seja a terra que é rica em história, contudo, a falta da documentação mais antiga por vezes impossibilita a sua veracidade.
De 27 de Maio a 3 de Junho de 1823, na decorrência de um golpe de Estado, denominado Vilafrancada, em que, Vila Franca ajudou a pôr o fim ao constitucionalismo durante a revolta, trazendo a proclamação da restauração do absolutismo.
Devido a este incidente, o rei D. Manuel I a 7 de Julho de 1823, denomina Vila Franca de Villa Franca da Restauração. De acordo, com Lino de Macedo, Vila Franca de Xira teve esta denominação durante os 6 dias em que a família realeza se encontrou na cidade “escondida” dos “infiltrados. Contudo, a documentação existente, define outro tempo.
Devido a estes infortúnios, não podemos esquecer as constantes revoluções populares que foram ocorrendo durante o séc.XX.
Vila Franca é uma cidade que sobrevive com a força do Povo e que luta pelo seu País, sendo que a Instauração da República tenha sido muito festejada, como também, a Revolução das Rosas (o 25 de Abril de 1974), tenha sido um marco que ainda hoje é festejado pelo povo vilafranquense.
“Correm estas lezírias daqui até Santarém, e são todas de sua Magestade e as arrenda a particulares, a tanto por moyo de semeadura, de que ha grossíssimos Lavradores em toda esta ribeira”
A agricultura era a actividade dominante da região. O Tejo foi sempre abundante também noutra actividade, a pesca. Fataças, linguados e sáveis ocupam pescadores de todas as vilas, dando origem a um comércio destas espécies. Os portos do Tejo eram frequentados por bateiras e barcos, com capacidade para receber com segurança as embarcações que navegavam pelo Tejo, ocupando um lugar de extrema importância entre a boa situação das cinco vilas junto à “estrada real” e ao Tejo, pois o comércio ocupava lugar de relevo, com o fabrico de telha (telhais) em Alhandra; e as feiras, denominadas de “feira branca”, onde os produtos eram comercializados em Alhandra, Alverca e Vila Franca de Xira, onde ainda hoje se realiza no primeiro domingo de Outubro, a “Feira de Outubro”.
Em 1836, dá-se o começo do desenvolvimento em Vila Franca de Xira, pois é constituída a Companhia das Lezírias do Tejo e Sado e em 1856, assiste-se à inauguração do primeiro troço de linha-férrea do país entre Lisboa e Carregado.
Em 1893, com a inauguração dos novos Paços do Concelho de Vila Franca de Xira, é apresentado também o plano para a canalização do ribeiro Barbas de Bode, que passava em frente do edifício, onde actualmente se encontra a Sede do Xira Clube
Já no séc. XX, é inaugurada a Ponte de Vila Franca de Xira, permitindo uma ampla comunicação com o mundo e dez anos mais tarde a inauguração da auto-estrada entre Lisboa e Vila Franca de Xira.
Nos anos 80, já no nosso séc. XX, Vila Franca de Xira passa de “vila” a cidade e cresce a “olhos vistos”.
Rica tanto em história como em arte, Vila Franca é conhecida pela Igreja da Misericórdia, o Chafariz do Alegrete de 1797, a Casa de Galache, o Convento de Santo António, locais que aconselhamos a visitar.
Extracto do trabalho “Guia de Arquivo” (Arquivo Histórico) – Divisão de Arquivo Municipal da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira”, de autoria e disponibilizado por Sandra Mendes. Existe um exemplar deste guia de arquivo, nas instalações da Divisão de Arquivo Municipal – Mais informações: https://www.cm-vfxira.pt/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=27325